A separação do estado de Mato Grosso em dois estados distintos – Mato Grosso e Mato Grosso do Sul – é um marco na história política e territorial do Brasil. Essa divisão, formalizada em 11 de outubro de 1977 e efetivada em 1º de janeiro de 1979, foi resultado de tensões acumuladas ao longo de décadas, envolvendo fatores políticos, econômicos, sociais e estratégicos.
Desde o início do século XX, a região sul de Mato Grosso apresentava características econômicas e culturais distintas do restante do estado. Essa área se destacava pela produção agrícola, pecuária e a proximidade com estados vizinhos como São Paulo e Paraná, que já haviam experimentado um avanço econômico significativo (1).
Por outro lado, a administração central em Cuiabá parecia desatenta às necessidades da região sul, priorizando o norte do estado em termos de infraestrutura e investimentos. Esse descontentamento levou ao surgimento de movimentos separatistas já nas décadas de 1930 e 1940, que, embora inicialmente isolados, começaram a ganhar força nas décadas seguintes (2).
A elite política e econômica do sul alegava que a distância da capital (Cuiabá) dificultava a resolução de problemas locais e que os recursos gerados pela economia regional não retornavam na forma de investimentos públicos. Estradas, escolas, hospitais e outras infraestruturas básicas eram consideradas precárias no sul, o que aumentava o sentimento de abandono (3).
Além disso, a população local também se identificava culturalmente mais com o sul e sudeste do Brasil do que com o norte de Mato Grosso. A percepção de que suas demandas não eram ouvidas pelo governo estadual foi um catalisador para a luta pela separação (4).
Durante o regime militar brasileiro (1964-1985), o governo adotou uma política de “segurança e desenvolvimento” que visava ocupar e integrar áreas estratégicas do território nacional. O sul de Mato Grosso, localizado na fronteira com a Bolívia e o Paraguai, era uma área considerada de importância geopolítica para o Brasil (5).
A criação de Mato Grosso do Sul fazia parte de um plano mais amplo de consolidação territorial e de promoção de crescimento econômico em regiões estratégicas. A divisão territorial permitiria ao governo central ter maior controle sobre áreas de fronteira e, ao mesmo tempo, fomentar o desenvolvimento econômico local, principalmente através de incentivos à agricultura e à pecuária (6).
A divisão foi formalizada pela Lei Complementar nº 31, sancionada pelo presidente Ernesto Geisel em 11 de outubro de 1977. Essa lei criava oficialmente o estado de Mato Grosso do Sul, estabelecendo como capital a cidade de Campo Grande.
A efetivação da medida aconteceu em 1º de janeiro de 1979, quando Harry Amorim Costa assumiu como o primeiro governador de Mato Grosso do Sul. A partir daí, começaram os esforços para estruturar o novo estado, que enfrentou desafios logísticos e financeiros significativos nos primeiros anos (7, 8).
A divisão de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul foi mais do que um rearranjo territorial. Ela simbolizou a luta de uma região por reconhecimento e autonomia, alinhando-se também às prioridades estratégicas do governo militar. Embora tenha enfrentado dificuldades iniciais, Mato Grosso do Sul conseguiu se consolidar como um estado próspero e com identidade própria, enquanto Mato Grosso manteve seu crescimento exponencial no setor agropecuário, mostrando que a separação trouxe benefícios a ambas as partes.
Edição, formatação e redação do Artigo: Hitalo Silva Pereira - 0001157/MS
Supervisão e Revisão: Stéfano Buarque de Paula